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VINICIUS COMOTI
"Camoti escreve poesia como se proferisse imprecações. São anátemas na linguagem mais chã, mas que mantém a força poética, pela qualidade das suas imagens; por ser alguém capa de "sonhar na vereda global no oco da lágrima". Passa do contemplativo ao alucinado, da limpidez das "cadeiras vazias onduladas pela poeira" até os "pirarucus no asfalto ao vento"; ou, paroxismo, ao enxergar "as olheiras de nijinsky desenhadas no pátio da escola pública."
(...)
"Série de alucinações? Não — ou não apenas. Antes, registros de uma poesia contemporânea brasileira que, cada vez mais, se afirma como negação e superação do que está aí, do presente estado de coisas. Que, cada vez mais, está aí e se excede. Que, cada vez mais — felizmente. A loucura lúcida, confrontando a falsa racionalidade destruidora da vida."
CLAUDIO WILLER
COMOTI, Vinicius. Bagarocas. São Paulo: Lumme Editor, 2020.
64 p. 16 x 23 cm. ISBN 978-65-00-07853-4 Ex. bibl. Antonio Miranda
COMOTI, Vinicius. Rabicó de puto. Ilustrações da capa: Geraldo Leão. Curitiba: Kotler Editorial, 2019. 108 p. 15 x 21 cm.
Ex. bibl. Antonio Miranda
"Aqui ele radicaliza. Sua linguagem fica no caminho do punhal, Concisão como espeto. Devaneio, surreralismo & alegria. Escrita do prazer. Mesmo abordando o cruel, suas imagens é que realmente levam ao Prazer."
GUILHERME ZARVOS
o cambitinho no bosque
comendo nhoque
e palitinhos de porco
a braguilha molhada
pelos pingos do mijo
pisou na merda
acordou rico
a ofensa
do vazio
me escaldou
as imagens espatifaram
o versinho
na máquina de lavar
baralho viciado
século vencido
o filme noir
queima a ponta dos sonhos
no batizo da madrugada
no meio da paranóia o corredor escuro
a voltinha se transformando em nunca mais
algum intruso
de salada
para fritura
a sua frescura
COMOTI, Vinicius. O meu amor é um picles passado. Ilustração de Guinski. Curitiba: Edição do Autor, 2022. 48 p. ilus. 31 x 21 cm. ISBN 978-65-00-39824-3 "Livro de artista- 250 exs.
Ex. bibl. Antonio Miranda, autografado pelo autor.
PRA RIBA DE MOÁ
deflorar
na delícia do abismo
suas olheiras me convalescendo
mormaço que se alastra
movediço
caderno inaugurado com mel
Ilus. por Guinski
XAXADO XERETA
tamborilar saturno
onde a beleza se abespinha pelas penumbras
de pernas revoadas
palpitando o timoneiro
os arbustos
tão sacudidos entre si
o cão que o diabo escrutina
mudo
teatro do absurdo que nossas línguas se enrolam
aladas & fora-da-lei
CRIANÇAS DA NOITE
cara a cara
com a coxinha de frango
& a educação sentimental na consolação
acidente da lua em leão
ruas do grito estufado
eu me transformo em gira
de casais apaixonados
murmurantes na fumaça escarlate
sambando
as catracas da alquimia
bundas afoitas
& o girassol desembrulhado
butecos onde o fogueteiro veio
& não quis atravessar
o trompete
no vagar cafona
derivas coradas de vermute
solidões
vaso ruim quebrado
*Página ampliada e republicada em junho de 2022
Página publicada em novembro de 2020
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